quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Eu fui uma criança "gordinha" e uma adulta obesa mórbida... Como evitar a epidemia de OBESIDADE INFANTIL?

Quando eu era pequena a expressão "que bebê lindo, gordinho"... Uma herança da época - sem vacinas e/ou antibióticos - que a criança mais bem nutrida era mais capaz de passar pela primeira infância, e suas infecções com maior sucesso.
Eu fui uma bebê gorda (diria até obesa) e esse problema me perseguiu por toda vida, e só foi de alguma forma resolvido com a cirurgia bariátrica (redução de estômago).
Veja abaixo o risco da criança obesa se tornar um adulto obeso:

No Brasil nas últimas 2 décadas a prevalência da obesidade infanto-juvenil subiu 240%!! Uma a cada três crianças de 5 a 9 anos está acima do peso.

Hoje em dia temos inúmeros fatores que levaram a OBESIDADE INFANTIL ser uma problema de saúde pública em todo mundo:

  • alimentação "fast food", industrializada, usada como forma de recompensa (já falamos disso no post Alimentação infantil: não fale para seu filho fazer o que VOCÊ não faz..) e,
  •  redução da atividade física (o simples brincar: correr, pular, andar de bicicleta) que foi substituída pelos brinquedos eletrônicos. 
    • Esse fenômeno não é só culpa dos brinquedos eletrônicos ou da web, mas também do aumento da violência e da redução dos espaços (parques, rua, playgrounds) para que as crianças possam exercer esta atividade livremente. Outro problema é como sempre... o exemplo! Os pais também estão cada vez mais sedentários... E por fim o fenômeno do "mini-adulto" que faz: inglês, mandarim, kumon, etc... para um dia ser muito bem sucedido no "vestibular" (nem sabemos se isso vai existir daqui algum tempo), fazer uma faculdade de ponta (será que quando eles crescerem isso ainda vai ser importante?) e ser um adulto bem sucedido (o que é isso? ser feliz ou ganhar dinheiro?)
Este post é para explicar os motivos, os riscos e como evitar a OBESIDADE INFANTIL

O que é ser "gordinho" e o que é ser obeso?
Primeiro sinal: seu (sua) filho (a) está com um peso superior a dos seus (suas) coleguinhas da mesma idade. Geralmente, acreditamos que a família nota isso, mas um estudo recente na Espanha e no Reino Unido mostrou que 30 a 45% dos pais entrevistados não conseguiam identificar o excesso de peso dos filhos, a menos que a criança fosse muito obesa! Uma boa ferramenta são gráficos de crescimento (peso e altura) que o seu pediatra preenche em toda consulta de puericultura. Converse e ouça o seu pediatra sobre o assunto!

Quais são os fatores de risco para a obesidade infantil?
Fatores Genéticos: filhos de pais obesos tem maior risco de se tornarem obesos, mesmo que não sejam criados por estes pais. Mas, a genética só se manifesta se o ambiente permite, ou seja, se a família tem estilo de vida sedentário e abusa de uma alimentação não-saudável. 
Mães que engordam muito durante a gravidez (especialmente aquelas que evoluem com Diabetes durante a gestação por esse excesso de ganho de peso), ou sofrem de privação alimentar (desnutrição), geram crianças com maior tendência a obesidade.
Há um fator psicológico da relação entre os pais e a criança que também é importante. Em muitas famílias a comida é usada como recompensa, ou como prova de amor da criança pela mãe/pai ("se você me ama, vai comer tudinho")

Saciedade: isso deve ser respeitado
Toda pessoa nasce com a sensação de fome e de saciedade. O bebê chora quando está com fome, recebe o leite e descobre a saciedade! 
Muitos pais/mães não conseguem entender que a quantidade de comida que a criança ingeriu pode parecer pequena, mas é suficiente para sacia-las. Essa quantidade varia de pessoa a pessoa, de criança para criança.
"Em casa que tem comida criança não passa fome" Não é necessário que a criança raspe o prato. Respeite quando a criança não quiser mais comida. Se mais tarde ela ficar com fome, ofereça novamente a comida salgada ou uma fruta, iogurte, etc

Frustração (birra)  e ansiedade (resposta a mudanças na rotina) na criança: comida não é tratamento para isso!
Muitas famílias tratam a birra trocando o seu fim por recompensas alimentares, geralmente doces e/ou salgadinhos industrializados. Já conversamos sobre birra em BIRRA: Quem já não perdeu a paciência?
Muitas vezes os pais/mães recorrem a comida quando estão ansiosos, ou com problemas, dando o exemplo para a criança. quando a criança frente a uma nova situação, por exemplo, troca de escola ou de professora, e ao se expressar ganha "uma gostosura"... estão ensinando um comportamento que vai ser para toda a vida e gerar essa associação "ansiedade-comida".

Prevenção é a palavra de ordem
No Pré-natal o ginecologista-obstetra deve identificar os fatores de risco da gestante: diabetes, colesterol elevado, tabagismo, pressão alta, doenças cardíacas... e então orienta-la: alimentação adequada, exercício físico durante a gravidez e ganho de peso correto.
No dia-à-dia  o pediatra deve (o que chamamos de puericultura): estimular o aleitamento materno exclusivo até o 6º mês, conversar sempre sobre a alimentação saudável e o respeito a saciedade da criança, a grande necessidade de EXEMPLO familiar, estimular a atividade física (que não precisam ser aulas de esportes, mas a liberdade do brincar!). Portanto, não deixe de levar seu/sua filho (a) a cada 6 meses/1 ano (após o 1º/2º ano, quando as consultas devem ser mais frequentes, para orientações nutricionais, de vacinação e avaliação do desenvolvimento da criança) ao pediatra!

Quais os riscos da obesidade infantil
Complicações físicas: Colesterol alto, diabetes tipo 2, pressão alta, sobrecarga nos ossos, acúmulo de gordura no fígado (esteatose hepática), puberdade precoce (amadurecimento dos órgãos sexuais antes da idade correta), acne, infecções de pele (especialmente nas dobras), asma e outras alterações respiratórias.
Complicações Emocionais: Baixa autoestima, depressão, maior chance de bullying na infância, alterações do comportamento.

Um comentário:

  1. Excelente artigo, como sempre. Faltou apenas dizer, se me permite adicionar, que a oferta de uma alimentação variada, apresentação de comidas e danos diferentes, e o fato de ter muitas cores no prato, ajuda muito na educação alimentar. Oferecer sempre pequenas novidades para que a criança experimente e, se não gostar ou não quiser, apresentar novamente. A alimentação pode ser saudável e divertida. Meu filho come muita salada. Aprendeu na escola. E eu aprendo como com ele.

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