Estava em uma festa de aniversário de uma das melhores
amigas da Bia e perguntei: qual deve ser a minha próxima coluna? E aí veio o
tema: o lado negro da maternidade.
Como é?????? Como assim tem lado ruim? Ser mãe/pai é
fantástico e tudo é lindo...
Mentira!
As mães costumam ter mais neuroses, mas esquecem que os pais
também têm seus dramas.
As grávidas ouvem só sobre sono e a rotina chata dos
primeiros meses e não se prepararam para o resto. E para os coitados dos pais ninguém
fala nada. Continuam usando o modelo: só a mãe cuida....
Então hoje vamos ao sincericídio: o lado negro da
mater/paternidade.
1-
Medo de morrer
À partir do momento que você vê a criança e nota que será
responsável por alguém ser feliz, ou não, saudável, ou não, etc... Você começa
a pensar na insuportável pergunta, mas e se eu morrer?
Para a cultura brasileira há algumas providências que pensei
e que podem parecer estranhas, mas vá lá:
·
Testamento: estabelecer exatamente quem deve ser
responsável pelo seu/sua filho (a) caso algo aconteça;
·
Reserva de fundos para educação: se você é
organizado faça um investimento próprio, se não for compre um plano de
previdência deste tipo
·
Plano de saúde: se vocês adultos faltarem o
plano de saúde da empresa acaba e... então tenham planos próprios que o
responsável legal pelo (a) seu/sua filho (a) poderá manter.
·
Vá ao médico. Faça checkup. Seja mais saudável.
2-
Pós-parto é ruim, mas passa
Seja parto normal ou cesariana (sim, ela é uma opção para
várias situações e não é crime) o pós-parto é um período de dor. Não é errado
senti-la e, por favor, divida o desconforto com seu/sua parceiro (a). Nesse
momento, ele (a) está ansioso (a) para fazer alguma coisa por você e o papel de
super-mulher os (as) enche de medo de ser desnecessário (a).
3-
Baby Blues e depressão
A maioria das mulheres passam pelo baby blues (encontrei
números de 60 até 80%) que é o resultado da imensa variação hormonal que
acontece no final da gestação.
Durante a gravidez a mãe está inundada de hormônios. Depois que
a criança nasce a quantidade de hormônio (estrógeno e progesterona) se altera
bruscamente e isso leva a alteração da quantidade de neurotransmissores,
substâncias que comunicam aos diferentes locais do cérebro as sensações de
alegria/tristeza/prazer. Com o tempo o corpo volta ao normal.
Os sintomas começam entre o 3º e o 10º dia pós-parto quando
a sensação de cansaço e de ser incapaz e incompetente se instalam. A privação
de sono, resultado da amamentação, piora o quadro. São sentimentos verdadeiros
e reconhecer e dividir com o (a) parceiro (a) é muito importante. Que o (a)
parceiro (a) possa ser a pessoa a acordar com o choro do bebê e trazê-lo (a)
até você (ao invés de você se levantar toda vez que o bebê chora) já ajuda
muito. Saber que pode tomar um longo banho porque há alguém a postos caso o bebê
chore, também. Seria interessante que o (a) parceira pudesse pensar em tirar
alguns dias de férias nesse começo (já que a licença legal é curta e foi criada
para que “o pai pudesse registrar a criança”.)
Deu vontade de chorar? Chore. Não tenha culpa. Você não é
uma horrível mãe porque não está absurdamente feliz. Praticamente nenhuma está.
Com apoio da família e amigos o baby blues passa em cerca de
2 semanas. Mas a depressão pós-parto é outra coisa. Na depressão a sensação de
incapacidade de cuidar da criança e de si mesma é aterrorizante e muitas vezes
gera impulsos suicidas ou homicidas. É mais frequente em pessoas com história
prévia e/ou familiar de depressão, que tenham tido problemas durante a gravidez
(especialmente de saúde). Segundo estatísticas norte americanas 10 a 15% das
mulheres apresentam o problema. Neste caso só apoio familiar e dos amigos não
adianta, é necessário tratamento psiquiátrico com medicação.
4-
Amamentar doí!
Sim, amamentar é fundamental para a saúde da criança e o
ideal é que o leite materno seja o alimento exclusivo dela até o 6º mês de
vida. (Vovós e vovôs, atenção: chá é contraindicado). Mas dói! O mamilo precisa
ser preparado para a sucção constante antes do nascimento do bebê. E mesmo
assim a tração, fricção e atrito constantes geram desconforto. A criança também
está em processo de aprendizado, nunca fez aquilo antes. Leia como se preparar
em: http://pediatriadescomplicada.com/2014/10/27/mamae-saiba-qual-a-melhor-posicao-e-pega-na-hora-de-amamentar
5-
Culpa: quero ficar sozinha um pouco! Quero ir embora daqui!
Sim, queremos! Queremos sair para dançar, ir ao cinema,
comer e beber bem sem que um choro ou alguém grite “manhê”.... Queremos dormir
até tarde... Queremos ficar sozinhas em casa em total e maravilhoso silêncio!
Por que não conseguimos? Porque a “cultura geral” diz que é
nosso dever estar totalmente à disposição da criança! E aprendemos que “deixar
com os outros” é errado. Primeiro, o (a) nosso (a) parceiro (a) não é “com os
outros” e sim alguém que decidiu entrar nessa jornada conosco. Mesmo que em
algum momento vocês já não coabitem, ambos (as) tem os mesmos direitos e
deveres em relação à prole.
Tenho ouvido muitas queixas de parceiros (as) especialmente
nos primeiros 2-3 anos de vida: eu não posso ficar sozinho (a) com meu filho
(a)! A mãe dele acha que eu sou incapaz!
A verdade é perniciosa. Nos sentimos tão poderosas nesse
papel de mãe que não queremos abrir mão desse poder para ninguém, sequer
compartilhar. É bom (mas é ruim) ser essa super-heroína que trabalha, cuida e
arruma tudo! Para as gerações passadas era o que as mulheres tinham de força e
de contrapartida nas relações...
O mundo mudou... E agora trabalhamos, estudamos, fazemos
esportes e temos outros interesses. Mas o comportamento “ideal” ainda está na
nossa mente, colocado pelas histórias que ouvimos desde pequenas e muitas vezes
pela educação que nossos pais nos deram.
Está na hora de reconhecer, partilhar o poder e educar o (a)
nosso (a) pimpolho (a) para ser diferente na vez dele (a).
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